quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A derrapagem da Burka

Por: Big Karucha


O título desta reflexão, vem das várias opiniões que li no jornal notícias, desde que o caso despoletou atenções com intervenção de entidades politicas do país. A decisão de Ministro da Educação foi não, a Ministra da Justiça também bateu na tecla não a Burka nas escolas moçambicanas. Este caso merece uma reflexão moçambicanizada e não a partir de transposição do modelo, o mais próximo é o francês como uma referência para se seguir, como apelam algumas opiniões.

Moçambique é um pais multicultural, isso ninguém pode negar, as influência do mercantilismo do século XV também deixou marca indelével, no que diz respeito a religiosidade, Cabo Delgado é uma região característica com influencia islâmica em grande medida, a dança tufu é uma evidencia desta situação mas nunca vieram a ribalta abolir essa pratica, por considerarem um património sociocultural impar que singulariza Moçambique.

A questão da Burka deve ser analisada tendo em conta o contexto sociocultural daquela região, refiro me de Cabo Delgado onde a Burka ganhou contornos alarmantes, os países africanos ratificaram acordo da Declaração dos direitos humanos incluindo as minorias. De tanto ler a questão da Burka não me lembro ter visto uma passagem que defende o direito das minorias, muito menos a esclarecer os efeitos que isso pode causar numa altura em que se procura incentivar a permanência da rapariga nas escolas.

Os sociólogos também podiam dar seu ponto de vista sobre a Burka, a perspectiva de Merton pode ajudar a esclarecer muitas coisas que são assumidas como não admissíveis, o ministério da Saúde foi o primeiro a endossar as redes mosquiteiras brancas a Província de Cabo Delgado a anos atrás, esta foi a função manifesta na linguagem mertoniana para combater a malária, como resultado, as comunidades levaram as redes para a pesca nas praias, fundamentando que simbolicamente as rede branca representa algo nefasto relacionado com a roupa que é vestido o morto (Cafane) isso na religião muçulmana.

A malária continuou a conquistar o espaço, feito estudos, constatou se que as comunidades não usavam as redes embora tivessem recebido, as mesmas serviram para outros fins, e não de combater a doença, isso revela uma lacuna do lado do ministério da saúde por não ter estudado o meio em que as redes mosquiteiras seriam distribuídas. Neste contexto, pergunto me onde estavam os especialistas que tem por obrigação estudar o meio sócio cultural antes de tomar quaisquer decisão sobre a necessidade de distribuição das redes aquelas comunidades? Refiro me dos epidemiologistas, tendo em conta que a malária constitui preocupação da saúde?

Outra experiencia que colhi, ainda no jornal noticia, foi a ideia de montar se uma empresa criadora de porcos em Cabo Delgado, numa região onde a maioria da população é muçulmana, isso contrasta com a realidade daquele ponto do país, apesar de não ter se materializado o intento governamental. Talvez se tivesse materializado a ideia poderíamos tecer argumentos que direccionassem no sim ou não.  
Esta volta que dei, foi para ilustrar algumas incongruências quando tomasse decisões sem ter em conta a realidade de que analisamos, isso expõe as entidades a vulnerabilidade sobre o real característico. Ai diria eu, onde é que os assessores que garantissem que a hierarquia máxima fale antes de investigar se o fenómeno?

As práticas sociais são propriedade legítima e reconhecida pelos seus usuários, deste modo qualquer decisão a ser tomada deve ter em conta a realidade em debate. As comunidades podem não manifestarem-se contra a ideia dos Ministros sobre a Burka, mas os efeitos podem se sentir na retirada dos seus filhos nas escolas em particular as raparigas, que são as que vestem a burka. Algumas opiniões mostram tendências religiosas das que pronunciam ou apelam ao não da burka, confundindo a pratica da burka islâmica, com as suas confecções religiosas seja qual for.

Lembrei me que, numa zona onde a maioria é bêbado as leis funcionam e defendem os que bebem e não ao contrário, a menina da Burka é quase uma gota de chuva no meio do oceano, a sua insignificância faz esquecer que o oceano não se faz de milhões de metros cúbicos acumulados em um segundo mas sim de pequenas cotas de chuva que vão se juntando correndo em direcção ao oceanos.

Moçambique está globalizado, os académicos ainda tem o desafio de discutir a influência dos midias, sobre as opiniões públicas numa sociedade pouco escolarizada, onde as ideia veiculadas pouco ou nada são digeridas, a comunidade quase implementa tudo que vêem nas novelas, a forma de vestir é um dos temas que até a função pública e a sociedade em geral devia olhar com muita atenção.

Voltando a Burka, as escolas moçambicanas introduziram o uso de uniforme, ai tudo bem, mas quais são as condições impostas na feitura do uniforme? Que áreas do corpo devem ser cobertas? E como deve ser usado? Se chegarmos numa escola, deparamos com a libertinagem na costura do uniforme, cada um ao seu gosto, as meninas trajam saia curtas que até não lhes permitem sentar, quando a ventania sopra é lamental ver as nossas irmãs preocupadas com seus vestes.

O que me deixa preocupado são os propalados índices de assédio nas escolas, abusos sexuais que ocorrem no meio escolar, até chegando aos extremos de engravidar, embora se diga que os promotores disso tudo são os professores e colegas das raparigas. Ai, tudo bem, essas práticas são uma patologia da sociedade moçambicana, varias organizações se mobilizam para combater este mal, por que a escola é não é campo de relacionamentos amoroso, muito menos espaço de ensaio de prazer.

Porém, fica um espinho na garganta, qual é a causa de tanta maldade, o porque de tantos abusos e assédios nas escolas, nos postos de trabalho? Como é caracterizada uma secretaria apresentável, seja particular ou sectorial duma instituição? E como é que as raparigas se apresentam nas escolas, embora estejam trajadas de uniforme? No meu imaginário penso que, alguns problemas que se vivem actualmente no mundo, são derivados de transposição de modelos de modos de ser, quando falham resultam em danos enormes.
Não me lembro de ter ouvido, de algum defensor dos direitos humanos, das feministas, dos deputados, dos políticos, dos religiosos e outras entidades da sociedade civil a propor uma código de conduta nas escolas no que respeita ao uso de uniforme. A Burka é uma prática islâmica embora discutível quando ao seu uso, a lei islâmica tem pressupostos naturais, o corpo do ser humano é sagrado mesmo morto continua a ser preservado.

Todo ser humano que professa a religião islâmica tem por obrigação tapar seu corpo, não se expor aos estranhos, começando de casa, a menina/o não pode vestir roupa transparente, que chama atenção aos que o rodeiam. Acredito que essa clausula é quase transversal, a promiscuidade que Levis Strauss analisou encontra se escondida em todos livros sagrado antigo testamento e o alcorão sucessivamente.

Por que as meninas devem mostrar suas pernas aos seus colegas, aos seus professores, não estariam a violar os direitos dos outros? Ao se exporem, o que se espera? É lamentável nos dias de hoje ver meninas nos vídeos clips, exibindo seus corpos ao lado do homem bem trajado. Onde é que esta a liberdade dessa rapariga, senhora em decidir sobre sua vida, seu futuro …etc?

De tanto ler livros de género, aprendi que educar uma mulher é educar uma nação, nestes moldes que nação estamos a educar, se a liberdade esta sendo transformada em libertinagem, mesmo pelas entidades que deviam se preocupar em regular a conduta desta futura nação. Não sou defensor da burka, muito menos contra a burka, mas sim um moçambicano que vêem seu país a derrapar nos seus valores, Moçambique não é um pais homogéneo socioculturalmente, isso deve ser a primeira coisa a se tomar em conta nos discursos das entidade politicas desta jovem nação.

Por isso se diz, podemos viver juntos mas diferentes? Alan Touraine pergunta nos, penso que sim, a moçambicanidade constrói se na diferença e não na igualdade, no sentido de que cada região tem seus hábitos, suas praticas, seus valores e normas, mas todos concordamos que somos moçambicanos seja de onde for, do norte, centro e sul. O importante é reconhecer que somos heterogéneos, cultivar o sentimento da moçambicanidade, a própria democracia é fundada na diferença por isso a constituição da república teve que ser revista em 1990 e posteriormente em 2004 para acomodar este princípio.

Um dos pressupostos é o de educar rapariga e a mulher moçambicana para empodera-las, isso é bem-vindo para uma nação onde a maioria da população são as mulheres, visto que, estas participaram na luta pela libertação do pais, mas quase nada ganharam com o seu engajamento politico. Do lado positivos são as leis que as defendem, também chamam nas, atenção em traçar os deveres que estas têm com a pátria, reconhecendo que desempenham muitas actividades ao longo do dia muitas destas não remuneradas.

Os país e encarregados de educação mandam seus filhos para aprenderem a ciência e desvendar os mistérios que esta criou ao longo dos tempos sobre o povo moçambicano, se os país ou avos destes jovens conquistaram a independência politica, agora é a vez da geração de viragem galgar rumo a independência económica. Mas este desafio é triangular, visto que não depende apenas da geração da viragem para alcançar essa gloriosa batalha que tanto se almeja.

Desta forma, temos que reconhecer que o mesmo Moçambique tem problemas diversificados, já ouvi falar de crianças que estudam sentados nos paus por falta de carteiras, embora estejam em zonas onde a madeira é abundante, até sendo pessimista algures da cidade de Maputo há crianças que sentam no chão por falta de carteiras nas suas escolas, mas as crianças nunca deixaram de ir a escola por estarem em condições diferentes.

Contudo, Moçambique não se cinge ao catolicismo, ao protestantismo, aos velhos apóstolos, a universal, aos do sétimo dia em diante, também os muçulmanos estão lá com suas práticas, regras religiosas e seus princípios. Os católicos identificam se com o crucifixo mas ninguém da entidade veio a realçar a sua interdição, as freiras que frequentam as escolas do pais aparem trajada com o seu uniforme, então por que do não da burka? De que Moçambique estão a defender V. Excia! Homogéneo ou heterogenia?


1 comentário:

  1. Meu caro amigo. Li com muita atencão o seu texto. Percebi o seu ponto vista, mas será que tem conta os contra?

    Aquele abraco

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